Calado. Se haveria uma palavra que pudesse descrever o seu interior naquele momento, essa deveria ser a mais adequada. Ele estava preocupado. Não, melhor, ele não estava preocupado. Ele não estava coisa nenhuma, justamente porque o seu íntimo não falava nada. Nem tristeza, nem alegria. Nem revolta, nem resignação. Nem ódio, nem amor. Nada. E não, ele não estava apático. Ou deprimido. Estava calado, e mesmo quando ele mesmo tentava conversar consigo mesmo, não recebia resposta alguma.
Inquisitivo como ele era, resolvera ponderar sobre esse silêncio interior. O silêncio da alma. Ele acreditava nos ciclos, é claro. Tudo o que ele observava na criação divina funcionava em ciclos. "É uma coisa óbvia" - ponderava ele - "afinal se uma atividade, processo ou fenômeno não funciona em ciclos, uma hora ou outra deveria acabar".
Ele não acreditava no fim. Não que tivesse medo de tudo um dia acabar e pronto. Ele não tinha medo do fim. Talvez tivesse um pouco de medo da falta de propósito do fim. Mas nem disso tinha certeza. O fato de não acreditar no fim vinha de dentro. De um "Eu" muito mais interior que o "Eu" que estava calado naquele momento. Esse "Super-Eu", ele gostava de acreditar, continha toda a Verdade do Universo, justamente porque ele era o Universo. Ou pelo menos uma parte dele.
Na sua busca pelas razões do silêncio interior, e a que propósito ele serviria na construção da alma, ele se esbarrou vez ou outra, bem ligeiramente, numa sensação de insignificância. Não com relação a ele - ele não se sentia insignificante de maneira nenhuma. Era uma insignificância mais relacionada à pequeninez da vida de um indivíduo - não, de todos os indivíduos - em um determinado tempo, perante todo o resto. E se sentiu como uma pessoa que deve viajar por anos e anos para chegar ao lugar a que se direcionava. A diferença era que cada mês desses anos era uma vida inteira.
Nesse sentido, ele percebera quão pequena é sua vida. E quão idiota é sair correndo para vivê-la desesperadamente, ansioso pelo futuro e com medo do passado. De repente, se lembrando que tudo é um ciclo, percebeu que depois de toda essa longa caminhada, outra deveria começar. Para todo o sempre.
Então ele se sentiu eterno, por um breve instante de tempo. E percebeu que a resposta que procurava sobre o silêncio do seu "Eu" interior não viria agora. Mas ele a podia sentir, roçando as superfícies da sua mente consciente, fazendo cócegas, instigando-o a sentir. Ele já sabia que tinha a resposta para tudo. Mas deveria esperar até o momento em que estaria pronto para recebê-la.
Ele sentia paz.