sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Sobre o que o futuro promete

É incrível como a música me instiga, me excita, me devora. São 3:55 da matina, amanhã (ou para os mais chatos, hoje mesmo) eu vou viajar para Milão cedo, e eu já estava deitado, computador desligado e tentando dormir, mas o sono não vinha. Pus música no ouvido, o que geralmente tem efeito calmante em mim e me faz dormir como pedra. Comecei a ouvir as músicas do que parece ser um novo álbum da Madonna, chamado "Animal", álbum esse que parece ter vazado completamente pela internet e já está deixando todo mundo agitado. Bom, eu pelo menos estou. Já estou viciado no disco e arrisco dizer que é um dos meus preferidos, se não O preferido, da Madonna.

Misturando o clima dance do Hard Candy com o estilo gostoso de músicas para a alma do Ray of Light (que é um dos meus preferidos da Madonna), o novo álbum ficou milhões de vezes mais gostoso que o Hard Candy (não arrisco fazer comparações com o Ray of Light, que é uma peça de beleza ímpar). E viciante.

Bom, mas voltando ao que interessa: quando pus essas músicas no meu ouvido, eu não consegui dormir. Meu espírito se revirou de satisfação e inspiração e veio na minha cabeça, na hora, que eu devia escrever algo no blog. E aqui estou eu, deitado na cama, com tudo escuro, escrevendo pro blog, totalmente inspirado pela Madonna.

Bom, antes do leitor prosseguir com essa leitura, eu quero pedir que ele escute essa música, que é a minha preferida do álbum Animal (e talvez de todas as outras músicas da Maddie):


E se não for pedir muito, peço que leiam também a letra, enquanto escutam a música, e que reflitam sobre ela um pouquinho. A letra está aqui:

Para os que se deliciaram com a música, eu recomendo a versão acústica, que é esplendidamente fascinante:


Passado esse ritual, acho que pelo menos alguns vão estar inspirados agora e poderão aproveitar melhor o resto da leitura! :D

A primeira coisa que veio na minha cabeça quando eu pensei sobre o que eu escreveria foi o futuro. Afinal, o ano novo está aí batendo à porta, e nada melhor do que uma virada de ano para nos encher de esperança de uma vida e um mundo melhor para todos, e para nos lembrar de que o nosso futuro depende somente das nossas decisões e ações de hoje.

Daí que isso reflete diretamente na tão falada "Resoluções de Ano Novo". Eu fiz as minhas três anos seguidos. Esse ano ainda não fiz, mas isso não significa que não vá fazê-lo mais tarde (antes fazer no meio ou no fim de janeiro do que não fazer nunca, né?). A experiência desses três anos me diz que é bacana, porque quando o ano acaba você pode dar uma olhada nas suas resoluções do ano anterior e fazer um balanço do quanto você cresceu como pessoa e quanto das suas propostas você conseguiu cumprir.

Mas, além das resoluções de ano novo, eu também costumo escrever uma lista, simples e básica, das coisas que o ano que passou me deixou. O que marcou. Pro bem e pro mau. O que eu aprendi, o que eu fiz de certo, como cresci. O que saiu errado, o que faltou, o que eu não fiz e sentia que devia ter feito. Com esse material, a gente consegue finalmente fechar o balanço e ver se a vida valeu naquele ano.

Bom, nas vezes que eu fiz isso a minha conclusão no final do ano foi que sim, a minha tem valido demais, e isso me deixou realmente feliz! :)

Anyway, incentivo vocês a sentarem e fazerem as de vocês. Ninguém precisa ler além de vocês mesmos. Agora vamos ao que interessa: o futuro.

O que afinal esse tal de futuro promete pra todos nós? O que vem por aí?

Alguns dizem que o fim do mundo está próximo, outros ainda afirmam veementemente que será em 21 de dezembro de 2012. Enquanto isso, os que não acreditam em nenhuma dessas previsões apocalípticas ou aqueles que simplesmente não tem opinião nenhuma sobre isso ou nem mesmo sequer considerou o fim do mundo continuam com suas vidas normalmente. Planejamos copas do mundo e olimpíadas, revitalizamos obras antigas para preservar a história que já se foi e construímos mais e mais coisas na esperança de que algumas delas sejam preservadas na história que está por vir. 

E no meio disso tudo, o mundo se divide em milhões de sub-grupos, cada um levantando sua bandeira e tentando se fazer entender. Enquanto os progressistas proclamam o desenvolvimento tecnológico e pregam o progresso acima de tudo, o pessoal eco-friendly sai pelo mundo afora gritando que estamos destruindo o mundo. Mostram fotos e vídeos de geleiras derretendo e cidades inundadas como prova de que estão certos, implorando que o progresso pare um pouquinho e olhe ao seu redor, ao em vez de sair devorando tudo que vê e transformando esse tudo em algum equipamento eletrônico "da hora" que em menos de dois anos será rebaixado ao nível de tralha eletrônica e eventualmente irá parar no lixo, piorando a situação ambiental do planeta.

Por outro lado, os democratas e capitalistas riem de qualquer um que tente propor um outro modo de viver no planeta, chamando-os a todos de comunistas, sem nem mesmo se preocupar em distinguir quem é comunista. Provavelmente porque acham que "comunista" é um xingamento político bem forte para retirar a moral de qualquer um na face da Terra e fazê-lo parecer um rebelde que mata pessoas e que querem acabar com a "paz" da democracia. Ao mesmo tempo, os comunistas (de fato) e outros demais grupos que não concordam mais com a maneira como as pessoas estão vivendo tentam argumentar como podem para tentar convencer outros de que o sistema deles é que funcionaria, e que o mundo precisa mudar, passando geralmente boa parte de suas vidas pensando e repensando sobre o comportamento humano, política e economia para conseguirem argumentos cada vez mais fortes e persuasivos para suas crenças de sistemas melhores.

Ainda, consumidores brigam por menores preços com as empresas, que por outro lado querem que querem que os consumidores troquem seus produtos o mais rápido possível, sempre por um preço mais elevado que o anterior.

Também, a população briga por impostos menores e melhoria nos serviços públicos, enquanto os políticos acham que o importante é investir na indústria e dar incentivo ao setor automobilístico, a fim de aumentar as exportações e aquecer a economia interna, obtendo então a aprovação da população para seus feitos.

E por aí vamos:
Gays defendem a sua liberdade sexual enquanto heteros espancam gays por aí para demonstrar que não querem saber dessa história de liberadade sexual.
Ateus atacam os deuses alheios com um desejo intenso de acabar com a fé de todo mundo a fim de poderem finalmente viverem tranquilos sem aquela pressão de ter de acreditar em alguma coisa, enquanto religiosos usam a palavra "ateu" como xingamento, expressando sua reprovação pela descrença em um deus e às vezes ainda clamando que essas pessoas irão todas para o inferno.
'Rockeiros' tentam ridicularizar o Pop e todos que gostam de Pop, enquanto os 'Popeiros' chamam os rockeiros de brutos, intolerantes e chamam sua música de barulho.
Os Estados Unidos da América se colocam no topo do comando do mundo e acham que estão no direito deles de assumirem esse posto, proclamando que eles mantém a paz mundial, enquanto os países europeus riem e cospem na política americana, colocando eles mesmos em uma posição de elevação política.

Os exemplos são inúmeros e provavelmente infinitos. Grupos existem para defenderem ideias, e como ideias são infinitas e estão sempre aparecendo ou sendo renovadas, também os grupos estão sempre surgindo e se renovando. A questão que me intriga nessa zona toda é: onde ficou o ser humano nisso tudo?

Ninguém mais pensa no nível do ser humano. Só de grupos, de união de ideias, de interesses. Ninguém mais faz discurso em cima do ser humano em si, como ele é pura e simplesmente: um animal evoluído que possui necessidades básicas que são mais básicas que tudo que o resto do mundo discute. Ninguém mais realmente percebe o que é passar fome, com exceção daqueles que passam fome de verdade. Ninguém mais consegue visualizar o que é passar sede e não ter água limpa para beber e cozinhar, exceto é claro quem vive em condições como as descritas. Ninguém mais sente, de verdade, o que significa viver em um ambiente de ar poluído e tóxico. Ninguém mais percebe que o ambiente em que o ser humano vive deveria libertá-lo de tudo para que ele pudesse simplesmente ser o que ele precisa ser.

Ninguém nota esses pontos super básicos que estão na natureza do ser humano e de todo ser vivo, simplesmente porque hoje estamos sempre discutindo conforme grupos. Estamos sempre ocupados discutindo sobre política, sobre religião, sobre sistemas monetários e sobre produtos. Estamos preocupados com o quanto falta para comprar aquele presente cobiçado ou quanto podemos gastar no supermercado para não ficarmos sem dinheiro antes do fim do mês. Estamos alucinados.

O que o futuro reserva para um mundo onde mais de três quartos das pessoas vivem nessas condições?

Ainda bem que o ano novo está chegando, pois isso significa que eu estou cheio de esperança. Bom, eu geralmente sou sempre cheio de esperança, mas tem vez que ela se esvai. Hoje eu volto a acreditar. Acreditar que vamos nos unir e deixar de lado muitas bobagens que não valem sequer serem mencionadas.

E Madonna me vem justamente justificar essa esperança. Ela vem me lembrar hoje, que a expressão artística tem o poder de elevar o espírito a níveis de sensibilidade maiores, onde é possível enxergar o mundo com olhos universais, em vez de pessoais. Madonna, com sua super adorável obra de arte "Animal" vem me fazer sentir o que eu já senti muitas outras vezes ao contemplar e viver outras obras de arte: esse friozinho estranho na barriga e essa vibração incessante e indescritível que varre nosso ser, fazendo-nos acreditar na beleza do ser humano e do mundo como um todo. Fazendo-nos realmente humanos. Fazendo-nos todos unidos. Fazendo-nos todos irmãos.

Diante da arte, a concepção de grupos desaparece e o mundo se torna um. Não importa se você é alto, baixo, magro, gordo, negro, branco, índio, europeu, asiático, latino, religioso, ateu, gay, hetero, bi, travesti, político, civil, militar, professor, aluno, analfabeto. Nenhuma secção importa, porque elas simplesmente não existem. E tudo que parecia ser, só revela que era somente o que nos vestia. Pois a arte revela a alma, e a alma é perfeita, jovem e mágica, e é o cerne de todos nós.

Não se divide uma alma, assim como não se divide os seres humanos em infinitos grupos. E por isso eu digo que por enquanto nenhum de nós é realmente humano. Não até nos sensibilizarmos e entendermos o que nossa alma realmente anseia.

O futuro nos reserva mudança. E a mudança começa contigo. Portanto, o futuro promete o que você promete. Sua mudança deve começar com o fim da sua intolerância com qualquer "grupo" que possa aparecer na sua frente. Uma dica? Veja mais filmes, escute mais música, vá a mais teatros, veja musicais. Vá em exposições de arte, comece a reparar na arquitetura das coisas que te cercam. Repare mais na natureza e a beleza que ela abriga. Tome uma boa dose de arte, delicie-se com as diversas sensações que ela pode proporcionar e você se sensibilizará o suficiente para começar a pensar diferente.

Para finalizar o último post de 2010, vai mais uma sugestão de música do álbum "Animal": History (Land of the free). Tudo a ver com o que tentei expressar aqui!


Um ótimo 2011 para todos nós, e que ele nos traga união global e paz universal.
Um abraço!
John

PS: são 6 da manhã agora. Foram duas horas preparando esse post. Agora vocês entendem o porque de eu postar tão pouco? hahahaha

domingo, 12 de dezembro de 2010

Wikileaks e a libertação do comodismo

Não faço ideia de quantos de vocês estão a par do que está rolando no mundo atualmente, no que se diz respeito a Wikileaks. Se você não está sabendo de nada, talvez devesse dar uma pesquisada, ler algumas notícias (especialmente as linhas de tempo) e se situar. Porque o que está vindo por aí é a revolução pela liberdade da informação.

Eu nunca tinha visto um fenômeno que incitasse tantas pessoas a agirem, a responderem, a exporem suas opiniões. Nunca para mim não é muito, já que tenho apenas 21 anos. Mas continuo impressionado com a capacidade que a Wikileaks teve de incitar as pessoas a finalmente deixarem o seu comodismo de lado e começarem a fazer, de fato, algo para mudar esse mundo para melhor.

Obviamente que possuímos TANTOS problemas e tantos hipócritas e pessoas equivocadas que desvia a atenção deles que a humanidade ainda deve demorar alguns séculos até poder finalmente se chamar de civilizada, mas o que vem acontecendo após a divulgação de material sensível dos EUA pelo site da Wikileaks é algo inspirador.

De fato, esses acontecimentos vem nos lembrar que não importa quanto os governos e pessoas tentam segurar a verdade em suas mãos e, assim, controlar no que devemos acreditar, sempre haverá um progresso na revelação da verdade.

Eu geralmente gosto de analisar essa questão da verdade através de olhos espirituais. Não sei se é porque pensar que todo esse universo existe por alguma razão torna a vida mais interessante, ou se porque pensar que tudo vai, inevitavelmente, dar certo no final trás o conforto necessário para continuar acreditando no melhor mesmo quando a situação presente é o caos. Provavelmente é por ambas as razões. Fato é que ao considerar espiritualmente a situação da "verdade", sempre chego à conclusão de que estamos aqui nesse mundinho mesquinho a um canto qualquer da galáxia por uma razão simples: devemos chegar à "verdade". E esse seria o objetivo de vida de todos nós.

Essa ideia é mais bem entendida quando olhada sobre os olhos do espiritismo ou astrologia. Na verdade não. Diversas religiões e filosofias de pensamento se baseiam nisso: todos possuímos uma alma cuja missão é atingir a "verdade". E enquanto isso não acontece, renascemos infinitas vezes, até um dia em que teremos adquirido a sensibilidade necessária para entender e enxergar a tal da "verdade".

De qualquer modo, não estou aqui, agora, para falar da questão espiritual, mesmo considerando que a "verdade" espiritual é milhões de vezes mais importante que a "verdade" a que desejo me referir nesse artigo.

E essa "verdade" se refere à simples verdade que está por trás das ações dos nossos atos. Especialmente, dos atos de militares, governantes e executivos que tem o poder de modificar muita coisa nesse mundinho insignificante e inofensivo esquecido num canto esquecido da galáxia que é o planeta Terra.

Fato é que eu fiquei obcecado com os acontecimentos que vem sucedendo desde que o Wikileaks começou a divulgar material sensível sobre o comportamento dos militares dos EUA nas guerras do Iraque e Afeganistão, e sobre a diplomacia americana.

Aqueles que estão acompanhando sabem, por exemplo, que Julian Assange (o fundador do Wikileaks) está preso em Londres, acusado de estupro contra duas mulheres que contaram uma questionável história sobre serem "estupradas". Mesmo que a tal questionável história seja verdadeira, é de rir que um caso de "estupro" como o de Assange motive a Suíça a emitir ordens de extradição, enquanto provavelmente existem diversos estupradores que cometem ações realmente terríveis soltos pelo próprio país, onde a justiça poderia fazer um bom serviço com pouco trabalho internacional.

Da mesma forma, é incrível notar que a Interpol se apressou em colocar a foto de Assange na sua lista de procurados internacionais, quando sabemos que existem pessoas muito perigosas soltas por aí e que às vezes nem sequer recebem a atenção da tal organização de inteligência e investigação internacional.

E da mesma maneira, é de surpreender que Mastercard, Visa, Paypal e outras companhias deixem de oferecer suporte à Wikileaks, quando ninguém ainda acusou a mesma de quebrar nenhuma lei. Assim como me faz rir desconfortavelmente ler o motivo da Amazon para parar de hospedar o site - segundo eles, o contrato foi cancelado porque os termos de utilização e serviço obrigava o cliente a deter os direitos autorais do conteúdo publicado - sendo que ninguém detém direitos autorais sobre nenhum material publicado pelo Wikileaks.

Mas, o mais impressionante de toda essa história de hipocrisia, movimento intenso de interesses políticos e justificativas que soam claramente como desculpas para esconder a verdade, foi notar o quanto a comunidade internacional - e com isso eu quero dizer PESSOAS, como eu e como você - se uniu para repudiar toda essa porcariada que estão tentando fazer - com o Wikileaks e com o mundo.

Ataques de hackers ativistas explodiram contra as companhias supracitadas logo após as notícias sobre suas ações correrem pelo mundo. Pessoas se organizaram em torno de fóruns, blogs, twitter e facebook para discutir o assunto. Manifestos estão sendo assinados em todos os países, e pessoas estão saindo às ruas para protestar contra o modo como Wikileaks e Julian Assange vem sendo tratados, modos que não estão previsto em nenhuma Lei dos países envolvidos.

Enquanto políticos, militares e empresários poderosos que desejam continuar na era da "informação secreta" e da "fofoca diplomática pelas costas" e que temem que seus segredos sujos sejam revelados se levantam para acusar Julian Assange de terrorismo e de por a segurança dos EUA em risco, a maioria da população desse planeta se levantou em defesa dos denunciantes. E como um sitezinho que até um ano atrás era desconhecido por todos, conseguiu se tornar tão influente assim em menos de seis meses?

Bom, deixa eu dar um simples exemplo:

Você e muitos outros são súditos de um rei, em um reino bonito e feliz em alguma outra galáxia bem longe da Via Láctea. Desde pequeno, você aprende que deve, assim que acorda e antes de fazer qualquer outra coisa, carregar uma pedra que estará na porta da sua casa colina acima até a portão do castelo do rei. E todo mundo faz isso, há centenas de anos. O que o rei faz com essas pedras, ninguém faz ideia, mas ele diz que é muito importante para a segurança do reino e para a felicidade de todos que isso seja feito, e sempre agradece com um grande sorriso todo o dia pela chegada do número exato de pedras. A verdade é que você sempre acha uma pedra no pé da porta da sua casa no dia seguinte, e quando chega com ela no pé do portão do castelo, você vê um monte de pedras que os outros estão colocando. Então tudo parece certo e você continua fazendo, sem questionar o rei, os outros ou a você mesmo sobre isso.

Agora, imagine se chega um bobo da corte, cansado de sua vida de otário dentro do castelo, entretendo os ricos e entendiantes homens do poder, que resolve descobrir e colher material de dentro do castelo que exponha a razão para que o rei ordene esse negócio de carregar pedra morro acima todo dia. O bobo da corte consegue convencer o criado - o único que pode entrar no quarto do rei - a ajudá-lo a entender o que se passa na cabeça do rei, porque ele sente que tem algo de mentiroso em suas falas. O criado não podia concordar mais, e aceita procurar informação valiosa no quarto do rei. Encontra tudo que precisa em um diário que o rei mantinha guardado debaixo do seu travesseiro, e entrega o material para o bobo da corte, irritado por saber o quão hipócrita o rei era para com seus fiéis súditos e cheio de esperança de que a revelação da preciosa informação ao reino possa mudar a vida de todos para melhor e fazer o rei tomar vergonha na cara e começar a dizer a verdade por trás de suas ordens.

O bobo da corte, corajoso como ele só e motivado pelos anos perdidos com o fútil e mesquinho pessoal rico da corte, foge uma noite do reino, faz milhões de cópias do diário e espalha pelo reino. No outro dia, as pessoas descobrem que durante séculos haviam carregado as pedras colina acima para que o rei as rolasse colina abaixo durante a noite, e os soldados do rei as transportasse de volta para as portas das pessoas do reino, para que no outro dia tudo se repetisse. Sabe como é, se você nunca rolou pedras colina abaixo, precisa fazer para ver como é divertido!

Mas evite pensar na diversão do rei em rolar pedras abaixo e pense no seu sofrimento em carregar pedras morro acima. E agora pense que você fez isso sua vida toda para que um outro boboca qualquer tivesse a diversão de rolá-la morro abaixo! Como você se sentiria? Ultrajado, certo?

Bem, você eu não sei, mas o pessoal do reino se sentiu ultrajado e uma crise começou. O rei tentava forçar a opinião pública contra o bobo da corte, mandando-o para a prisão, dizendo que o diário do rei continha segredos que podiam ser usados para atacar o reino e por a segurança de todos em risco e ordenando que todas as cópias fossem destruídas e que ninguém devia ler o diário. As pessoas, por outro lado, começaram a fazer cópias do diário e espalhar para outros reinos, que eram diretamente afetados por certas fofocas que o rei escrevia em seu diário sobre outros reis.

O fim dessa história, infelizmente, ninguém sabe. Eu gosto de pensar que as pessoas de todos os reinos daquele nada inofensivo planeta em uma galáxia bem menos periférica que a Via Láctea no Universo se uniram para acabar com a hipocrisia de seus governantes. Gosto de pensar que os segredos, um dia, acabaram, e assim nenhum reino precisou mais se armar até os dentes por não confiar nos outros. Gosto de pensar que as guerras, então, acabaram. Gosto de pensar que, com a informação sendo compartilhada por todos os habitantes daquele planeta, eles puderam progredir rapidamente e se tornarem um dos planetas chaves para o Governo Galático e para o desenvolvimento de tecnologias capazes de curar doenças e elevar o potencial de todos os seres do Universo. Por fim, gosto de pensar que não demorou mais do que um século para que os habitantes daquele planeta finalmente entendessem a "verdade" espiritual a que eu me referi mais cedo nesse artigo.

O que eu quero dizer com isso tudo é que as pessoas estão sendo profundamente tocadas por tudo que está acontecendo contra a Wikileaks e Julian Assange. Ah, sim, claro, não podemos esquecer do Bradley Manning, o responsável por capturar as informações sujas da guerra do Iraque e repassá-las a Julian Assange, na esperança de que um debate público se iniciasse para que coisas mudassem e nenhum outro ser humano precisasse passar pelo que ele viu acontecer.

O vazamento de informação vem nos lembrar que segredos fazem mal. Se fazem mal na vida entre casais e amigos, por que não faria nos governos? Nos vem lembrar que não podemos simplesmente acatar as ações dos governos sem realmente saber o que está acontecendo. Nos vem lembrar que transparência é a melhor atitude para construir uma real democracia.

E, pelo menos para mim, o vazamento de informações me fez pensar que enquanto os governos tentarem se esconder por trás de mentiras e desculpas, escondendo segredos, guerras acontecerão e pessoas morrerão - inocentes ou não.

Defendo o fim dos segredos de estado. Defendo um governo cuja postura seja de simplesmente agir em prol dos seus, sem fazer politicagem nem distorcer informações. Defendo a liberdade da informação e acredito que, se você também defende, deveria começar a incitar discussões sobre isso. Esse post tem esse objetivo: incentivar as pessoas a se informarem e discutirem mais sobre o assunto.

Por fim, acredito que com os eventos desencadeados pelo Wikileaks, entraremos em uma nova era de questionamentos e modificações nos governos e na forma como a mídia reporta suas notícias.

Wikileaks é o começo de uma reforma em governos, mídia e internet. Wikileaks é um chamado para que pessoas do mundo todo acordem, fujam do comodismo de carregar a pedra morro acima, e comecem a questionar: porquê?

John Lennon Oliveira Couto


PS:
(ligeiramente inspirado em "O guia do mochileiro da galáxia" de Douglas Adams)
(não revi, se encontrarem erros gramaticais ou em sintaxes, me avisem!)