domingo, 12 de dezembro de 2010

Wikileaks e a libertação do comodismo

Não faço ideia de quantos de vocês estão a par do que está rolando no mundo atualmente, no que se diz respeito a Wikileaks. Se você não está sabendo de nada, talvez devesse dar uma pesquisada, ler algumas notícias (especialmente as linhas de tempo) e se situar. Porque o que está vindo por aí é a revolução pela liberdade da informação.

Eu nunca tinha visto um fenômeno que incitasse tantas pessoas a agirem, a responderem, a exporem suas opiniões. Nunca para mim não é muito, já que tenho apenas 21 anos. Mas continuo impressionado com a capacidade que a Wikileaks teve de incitar as pessoas a finalmente deixarem o seu comodismo de lado e começarem a fazer, de fato, algo para mudar esse mundo para melhor.

Obviamente que possuímos TANTOS problemas e tantos hipócritas e pessoas equivocadas que desvia a atenção deles que a humanidade ainda deve demorar alguns séculos até poder finalmente se chamar de civilizada, mas o que vem acontecendo após a divulgação de material sensível dos EUA pelo site da Wikileaks é algo inspirador.

De fato, esses acontecimentos vem nos lembrar que não importa quanto os governos e pessoas tentam segurar a verdade em suas mãos e, assim, controlar no que devemos acreditar, sempre haverá um progresso na revelação da verdade.

Eu geralmente gosto de analisar essa questão da verdade através de olhos espirituais. Não sei se é porque pensar que todo esse universo existe por alguma razão torna a vida mais interessante, ou se porque pensar que tudo vai, inevitavelmente, dar certo no final trás o conforto necessário para continuar acreditando no melhor mesmo quando a situação presente é o caos. Provavelmente é por ambas as razões. Fato é que ao considerar espiritualmente a situação da "verdade", sempre chego à conclusão de que estamos aqui nesse mundinho mesquinho a um canto qualquer da galáxia por uma razão simples: devemos chegar à "verdade". E esse seria o objetivo de vida de todos nós.

Essa ideia é mais bem entendida quando olhada sobre os olhos do espiritismo ou astrologia. Na verdade não. Diversas religiões e filosofias de pensamento se baseiam nisso: todos possuímos uma alma cuja missão é atingir a "verdade". E enquanto isso não acontece, renascemos infinitas vezes, até um dia em que teremos adquirido a sensibilidade necessária para entender e enxergar a tal da "verdade".

De qualquer modo, não estou aqui, agora, para falar da questão espiritual, mesmo considerando que a "verdade" espiritual é milhões de vezes mais importante que a "verdade" a que desejo me referir nesse artigo.

E essa "verdade" se refere à simples verdade que está por trás das ações dos nossos atos. Especialmente, dos atos de militares, governantes e executivos que tem o poder de modificar muita coisa nesse mundinho insignificante e inofensivo esquecido num canto esquecido da galáxia que é o planeta Terra.

Fato é que eu fiquei obcecado com os acontecimentos que vem sucedendo desde que o Wikileaks começou a divulgar material sensível sobre o comportamento dos militares dos EUA nas guerras do Iraque e Afeganistão, e sobre a diplomacia americana.

Aqueles que estão acompanhando sabem, por exemplo, que Julian Assange (o fundador do Wikileaks) está preso em Londres, acusado de estupro contra duas mulheres que contaram uma questionável história sobre serem "estupradas". Mesmo que a tal questionável história seja verdadeira, é de rir que um caso de "estupro" como o de Assange motive a Suíça a emitir ordens de extradição, enquanto provavelmente existem diversos estupradores que cometem ações realmente terríveis soltos pelo próprio país, onde a justiça poderia fazer um bom serviço com pouco trabalho internacional.

Da mesma forma, é incrível notar que a Interpol se apressou em colocar a foto de Assange na sua lista de procurados internacionais, quando sabemos que existem pessoas muito perigosas soltas por aí e que às vezes nem sequer recebem a atenção da tal organização de inteligência e investigação internacional.

E da mesma maneira, é de surpreender que Mastercard, Visa, Paypal e outras companhias deixem de oferecer suporte à Wikileaks, quando ninguém ainda acusou a mesma de quebrar nenhuma lei. Assim como me faz rir desconfortavelmente ler o motivo da Amazon para parar de hospedar o site - segundo eles, o contrato foi cancelado porque os termos de utilização e serviço obrigava o cliente a deter os direitos autorais do conteúdo publicado - sendo que ninguém detém direitos autorais sobre nenhum material publicado pelo Wikileaks.

Mas, o mais impressionante de toda essa história de hipocrisia, movimento intenso de interesses políticos e justificativas que soam claramente como desculpas para esconder a verdade, foi notar o quanto a comunidade internacional - e com isso eu quero dizer PESSOAS, como eu e como você - se uniu para repudiar toda essa porcariada que estão tentando fazer - com o Wikileaks e com o mundo.

Ataques de hackers ativistas explodiram contra as companhias supracitadas logo após as notícias sobre suas ações correrem pelo mundo. Pessoas se organizaram em torno de fóruns, blogs, twitter e facebook para discutir o assunto. Manifestos estão sendo assinados em todos os países, e pessoas estão saindo às ruas para protestar contra o modo como Wikileaks e Julian Assange vem sendo tratados, modos que não estão previsto em nenhuma Lei dos países envolvidos.

Enquanto políticos, militares e empresários poderosos que desejam continuar na era da "informação secreta" e da "fofoca diplomática pelas costas" e que temem que seus segredos sujos sejam revelados se levantam para acusar Julian Assange de terrorismo e de por a segurança dos EUA em risco, a maioria da população desse planeta se levantou em defesa dos denunciantes. E como um sitezinho que até um ano atrás era desconhecido por todos, conseguiu se tornar tão influente assim em menos de seis meses?

Bom, deixa eu dar um simples exemplo:

Você e muitos outros são súditos de um rei, em um reino bonito e feliz em alguma outra galáxia bem longe da Via Láctea. Desde pequeno, você aprende que deve, assim que acorda e antes de fazer qualquer outra coisa, carregar uma pedra que estará na porta da sua casa colina acima até a portão do castelo do rei. E todo mundo faz isso, há centenas de anos. O que o rei faz com essas pedras, ninguém faz ideia, mas ele diz que é muito importante para a segurança do reino e para a felicidade de todos que isso seja feito, e sempre agradece com um grande sorriso todo o dia pela chegada do número exato de pedras. A verdade é que você sempre acha uma pedra no pé da porta da sua casa no dia seguinte, e quando chega com ela no pé do portão do castelo, você vê um monte de pedras que os outros estão colocando. Então tudo parece certo e você continua fazendo, sem questionar o rei, os outros ou a você mesmo sobre isso.

Agora, imagine se chega um bobo da corte, cansado de sua vida de otário dentro do castelo, entretendo os ricos e entendiantes homens do poder, que resolve descobrir e colher material de dentro do castelo que exponha a razão para que o rei ordene esse negócio de carregar pedra morro acima todo dia. O bobo da corte consegue convencer o criado - o único que pode entrar no quarto do rei - a ajudá-lo a entender o que se passa na cabeça do rei, porque ele sente que tem algo de mentiroso em suas falas. O criado não podia concordar mais, e aceita procurar informação valiosa no quarto do rei. Encontra tudo que precisa em um diário que o rei mantinha guardado debaixo do seu travesseiro, e entrega o material para o bobo da corte, irritado por saber o quão hipócrita o rei era para com seus fiéis súditos e cheio de esperança de que a revelação da preciosa informação ao reino possa mudar a vida de todos para melhor e fazer o rei tomar vergonha na cara e começar a dizer a verdade por trás de suas ordens.

O bobo da corte, corajoso como ele só e motivado pelos anos perdidos com o fútil e mesquinho pessoal rico da corte, foge uma noite do reino, faz milhões de cópias do diário e espalha pelo reino. No outro dia, as pessoas descobrem que durante séculos haviam carregado as pedras colina acima para que o rei as rolasse colina abaixo durante a noite, e os soldados do rei as transportasse de volta para as portas das pessoas do reino, para que no outro dia tudo se repetisse. Sabe como é, se você nunca rolou pedras colina abaixo, precisa fazer para ver como é divertido!

Mas evite pensar na diversão do rei em rolar pedras abaixo e pense no seu sofrimento em carregar pedras morro acima. E agora pense que você fez isso sua vida toda para que um outro boboca qualquer tivesse a diversão de rolá-la morro abaixo! Como você se sentiria? Ultrajado, certo?

Bem, você eu não sei, mas o pessoal do reino se sentiu ultrajado e uma crise começou. O rei tentava forçar a opinião pública contra o bobo da corte, mandando-o para a prisão, dizendo que o diário do rei continha segredos que podiam ser usados para atacar o reino e por a segurança de todos em risco e ordenando que todas as cópias fossem destruídas e que ninguém devia ler o diário. As pessoas, por outro lado, começaram a fazer cópias do diário e espalhar para outros reinos, que eram diretamente afetados por certas fofocas que o rei escrevia em seu diário sobre outros reis.

O fim dessa história, infelizmente, ninguém sabe. Eu gosto de pensar que as pessoas de todos os reinos daquele nada inofensivo planeta em uma galáxia bem menos periférica que a Via Láctea no Universo se uniram para acabar com a hipocrisia de seus governantes. Gosto de pensar que os segredos, um dia, acabaram, e assim nenhum reino precisou mais se armar até os dentes por não confiar nos outros. Gosto de pensar que as guerras, então, acabaram. Gosto de pensar que, com a informação sendo compartilhada por todos os habitantes daquele planeta, eles puderam progredir rapidamente e se tornarem um dos planetas chaves para o Governo Galático e para o desenvolvimento de tecnologias capazes de curar doenças e elevar o potencial de todos os seres do Universo. Por fim, gosto de pensar que não demorou mais do que um século para que os habitantes daquele planeta finalmente entendessem a "verdade" espiritual a que eu me referi mais cedo nesse artigo.

O que eu quero dizer com isso tudo é que as pessoas estão sendo profundamente tocadas por tudo que está acontecendo contra a Wikileaks e Julian Assange. Ah, sim, claro, não podemos esquecer do Bradley Manning, o responsável por capturar as informações sujas da guerra do Iraque e repassá-las a Julian Assange, na esperança de que um debate público se iniciasse para que coisas mudassem e nenhum outro ser humano precisasse passar pelo que ele viu acontecer.

O vazamento de informação vem nos lembrar que segredos fazem mal. Se fazem mal na vida entre casais e amigos, por que não faria nos governos? Nos vem lembrar que não podemos simplesmente acatar as ações dos governos sem realmente saber o que está acontecendo. Nos vem lembrar que transparência é a melhor atitude para construir uma real democracia.

E, pelo menos para mim, o vazamento de informações me fez pensar que enquanto os governos tentarem se esconder por trás de mentiras e desculpas, escondendo segredos, guerras acontecerão e pessoas morrerão - inocentes ou não.

Defendo o fim dos segredos de estado. Defendo um governo cuja postura seja de simplesmente agir em prol dos seus, sem fazer politicagem nem distorcer informações. Defendo a liberdade da informação e acredito que, se você também defende, deveria começar a incitar discussões sobre isso. Esse post tem esse objetivo: incentivar as pessoas a se informarem e discutirem mais sobre o assunto.

Por fim, acredito que com os eventos desencadeados pelo Wikileaks, entraremos em uma nova era de questionamentos e modificações nos governos e na forma como a mídia reporta suas notícias.

Wikileaks é o começo de uma reforma em governos, mídia e internet. Wikileaks é um chamado para que pessoas do mundo todo acordem, fujam do comodismo de carregar a pedra morro acima, e comecem a questionar: porquê?

John Lennon Oliveira Couto


PS:
(ligeiramente inspirado em "O guia do mochileiro da galáxia" de Douglas Adams)
(não revi, se encontrarem erros gramaticais ou em sintaxes, me avisem!)

2 comentários:

  1. Vc tem que enxugar um pouco seus textos.

    Mas eu gostei do "Uma Galáxia menos Periferica"

    E gostei também da sua devoção em fazer as pessoas entenderem uma coisa que está acontecendo e, assim como você, eu acredito ser uma pontinha de esperança que eu não via a Anos. Apesar que Anos pra mim não são, também, mais que 21.

    =D

    ResponderExcluir
  2. é.... você entendeu o espírito da coisa mesmo!!

    Zeitgeist (que não foi citado, mas sua influência está clara nesse texto) e Douglas Adams certamente são fontes inspiradoras para uma mente aberta e crítica.
    Parabéns pela postagem! (e pela história do reio "a muito tempo atrás, numa galáxia muito, muito distante...")

    P.s.: pra quem não está a par da situação do Wikileaks, essa linha do tempo resume bem:
    http://www.estadao.com.br/especiais/wikileaks-a-pedra-no-sapato-dos-governos,126467.

    ResponderExcluir

Estamos sempre aí para ler as críticas, sugestões e elogios!